Quando os rumores sobre o iOS 26 começaram a ganhar força, falava-se em um “redesign histórico”. Alguns chegaram a comparar a novidade com a brusca revolução que foi o iOS 7, em 2013, quando o iPhone abandonou o skeumorfismo e adotou de vez o visual flat.
A expectativa era de que o sistema mobile da Apple iria passar por sua maior transformação em mais de uma década — talvez até desde o lançamento do iPhone original.
Logo depois da keynote da Apple e de instalar o beta do novo sistema, me bateu uma sensação estranha, algo que não consegui entender na hora o que era. Estava ainda muito cedo para emitir uma opinião sobre o iOS 26, mas algo ali não me deixava confortável.
Até que li um artigo no site AppleInsider falando as mesmas coisas que eu estava sentindo: cadê a tal revolução que me prometeram?
Isso é uma revolução ou apenas um polimento caprichado do que já tínhamos?

A estrutura do sistema segue intacta
Apesar do novo visual, a estrutura central do iOS permanece a mesma desde o primeiro iPhone: uma grade de ícones, scroll vertical e navegação baseada em toque e gestos.
Ao longo dos anos, Apple fez ajustes importantes — como criar widgets e permitir páginas de apps personalizáveis —, mas a espinha dorsal segue inalterada.
No iOS 26, o que muda são os detalhes: ícones translúcidos, efeitos visuais mais ricos, menus contextuais que se ocultam dinamicamente e barras de navegação que flutuam suavemente em meio ao conteúdo.
É bonito, fluido e elegante — mas ainda muito familiar.

E é bom que seja familiar, para não chocar o usuário. Mas então não diga que é um “novo paradigma”.
Do skeumorfismo ao Liquid Glass
Para entender melhor o impacto do iOS 26, é preciso olhar para o passado.
O iOS 7 foi, de fato, uma ruptura. Ele abandonou o skeumorfismo — aquele estilo que imitava objetos reais, como estantes de livros ou blocos de notas — e adotou um visual flat, colorido e minimalista.
Na época, foi polêmico: muitos acharam o design infantil (eu inclusive), outros elogiaram a leveza e a clareza.
Mas o iOS 26 não repete essa ruptura. Para o bem e para o mau.
O Liquid Glass é um novo material visual, sim, mas que evolui a linguagem que já vínhamos vendo desde antes.

Ele traz reflexos, camadas translúcidas e profundidade — mas tudo isso já existia, em versões mais simples, desde o primeiro iOS (que na época se chamava iPhoneOS).
Ou o que dizer do mesmíssimo efeito de brilho interativo ao movimentar o iPhone, imitando reflexo da luz, que vimos lá no iOS 6, em 2012?
Portanto, como chamar de “revolução” um sistema que traz conceitos que já tínhamos visto no passado?
Transparência não é novidade — mas a Apple fez diferente
É importante contextualizar: transparência em interfaces gráficas não é algo novo.
O Windows Vista, em 2007, já usava o efeito “Aero Glass” para adicionar profundidade visual com janelas translúcidas. O macOS Yosemite, em 2014, trouxe interfaces com efeitos de desfoque.
Sistemas como Android, KDE e até web apps modernos também exploram transparência e camadas translúcidas.
Então o que torna o Liquid Glass diferente?
Segundo a Apple, ele foi desenvolvido para parecer natural, como se fosse parte física da interface — algo inspirado no visionOS, sistema do Apple Vision Pro.

Essas são suas principais características:
1. Translucidez adaptativa
O Liquid Glass é translúcido, mas de forma inteligente. Ele muda de aparência conforme o conteúdo por trás, o contexto do app ou o ambiente (modo claro/escuro). É uma transparência “viva”, que responde ao que está sendo exibido.
2. Resposta ao toque e ao movimento
O material reage em tempo real a interações do usuário. Toques, rolagens e transições geram efeitos de luz, reflexos e refração, criando uma sensação de profundidade e fluidez tátil.

3. Forma que segue a função
O Liquid Glass não é só estética: ele se molda dinamicamente para exibir menus, mostrar opções ou encolher barras de navegação. Por exemplo:
- Menus contextuais se expandem a partir do toque.
- Tab bars se contraem durante a rolagem, priorizando o conteúdo.
- Alertas aparecem de forma discreta e contextualizada, sem cobrir toda a tela.
4. Integração com o hardware
Elementos visuais foram redesenhados para acompanhar os cantos arredondados dos aparelhos, criando uma harmonia mais precisa entre hardware e software.
Esses detalhes tornam o sistema mais moderno e coeso — especialmente em telas OLED de alta taxa de atualização (sorry modelos não-Pro com 60Hz), mas ainda são refinamentos, não reinvenções.
De fato, não é parecido com as transparências que víamos em sistemas anteriores.
É algo mais vivo, mais real; uma sensação que me lembra muito a interface Aqua, do Mac OS X original, na qual Steve Jobs definia como “É tão bonita que você vai querer lambê-la“.

O design mudou, mas ainda parece o mesmo iOS
Apesar das mudanças profundas na base visual do sistema, o iOS 26 continua familiar para o usuário. A Apple manteve a navegação, a lógica dos gestos e os padrões de uso intactos.
O que mudou foi a camada estética e sensorial — mais sofisticada, mais moderna e mais fluida.
Ícones ganharam camadas e reflexos, mas seguem com formas reconhecíveis. Widgets, Dock e Central de Controle adotaram o novo material, mas estão nos mesmos lugares de sempre.
É uma evolução, não uma ruptura.

A Apple quer desviar nossa atenção?
Há quem diga que o novo design foi, em parte, uma cortina de fumaça. Aliás, em março eu já desconfiava disso no final desde outro artigo.
Após o fiasco envolvendo a Apple Intelligence e o desgaste causado por promessas não cumpridas, a repentina mudança visual do iOS 26 soa menos como uma evolução planejada e mais como uma tentativa estratégica de desviar o foco das críticas.
Na ausência de grandes inovações em inteligência artificial, a Apple pode ter apostado alto no apelo visual do iOS para manter o entusiasmo em torno do sistema.

Um retorno ao passado, não uma revolução
O Liquid Glass do iOS 26 marca uma evolução visual importante — mas, curiosamente, carrega o DNA de uma época passada.
Assim como a interface Aqua do Mac OS X, a proposta é despertar emoção através do design, ideologia que o próprio Steve Jobs pregava.
Mais de duas décadas depois, o Liquid Glass segue esse mesmo princípio: transparência, profundidade, brilho e resposta física, mas agora com tecnologia moderna, toques de inteligência contextual e integração com o ecossistema atual.
Não me parece, nem de longe, um “sistema totalmente reformulado“. O que não significa que ele não tenha o seu valor.
Mas isso falaremos em um outro artigo. 😉
Os ícones novos, principalmente da câmera, são mais realistas, lembram skeumorfismo mesmo, uma volta ao passado.