A Apple deu um passo ousado com a introdução do iOS 26, apostando em um novo estilo visual batizado de Liquid Glass, com efeitos de transparência espalhados por menus, barras de navegação e planos de fundo.
A proposta, que também foi adotada no macOS 26 Tahoe e outros sistemas recentes, chamou atenção pela estética diferente. Porém, ela não agradou a todos.
Segundo informações divulgadas por Mark Gurman, da Bloomberg, em sua newsletter dominical, a Apple já está recuando parcialmente na adoção do efeito.
A mudança ficou evidente na terceira versão beta do iOS 26, lançada recentemente, que trouxe uma redução visível na transparência de várias partes da interface.
O poder das redes sociais
Embora problemas de desempenho e consumo de bateria possam ter influenciado a decisão, Gurman destaca outro fator importante: a repercussão negativa do novo visual nas redes sociais, principalmente no Xwitter e no YouTube.
Foram necessárias apenas algumas semanas de feedback público para que a Apple decidisse alterar um projeto que levou três anos (!!!) para ser desenvolvido.
Essa mudança rápida, claro, levanta questionamentos.
O visual original do Liquid Glass tinha falhas, principalmente de leitura em fundos claros… mas muitos consideram preocupante o fato de a Apple abandonar tão rapidamente uma ideia central de sua nova identidade visual.
Isso parece demonstrar que durante todo esse tempo de desenvolvimento, não havia ninguém com punho forte na equipe de design para perceber o que não funcionava e reparar as arestas antes do resultado chegar ao público. E isso tem muito a ver com o que já foi exposto neste outro artigo.

Gurman sugere, em sua newsletter, que a empresa poderia oferecer um controle de intensidade do efeito, permitindo que o usuário personalize o quanto deseja ver da transparência no sistema.
O histórico com o Safari e os ícones
Não seria a primeira vez que a Apple daria mais controle ao usuário após críticas.
Nossos leitores mais antigos se lembrarão que, no iOS 15, por exemplo, a empresa enfrentou forte rejeição ao novo design do Safari durante o período de testes beta, com o campo do endereço ficando embaixo da tela, não no topo.
Em vez de voltar atrás completamente, ela optou por oferecer três opções de layout, disponíveis até hoje no iOS 26.
Da mesma forma, o sistema atual permite escolher entre quatro estilos diferentes de ícones para a tela de início — algo impensável na era de Steve Jobs.
Já faz um tempo que a Apple vem se abrindo mais à personalização da experiência, mesmo mantendo sua filosofia de design controlado.
Está faltando coragem na Apple?
Quando esses recuos acontecem, eu sempre lembro do simpático Phill Schiller no palco do lançamento do iPhone 7, em 2016, ressaltando a coragem que a Apple sempre teve de propor evoluções que quebrassem o status quo do sistema.
Naquele ano, o que causou indignação foi a retirada do conector de fones de ouvido — uma mudança que parecia radical demais para a época, mas que acabou antecipando o futuro da indústria. Junto com essa decisão, a Apple apresentou os AirPods, que hoje são um dos produtos mais bem-sucedidos da empresa e que influenciaram todo o mercado de áudio pessoal.
Afinal, você se imagina hoje usando fones de ouvido presos a um fio para ouvir música?

Mas esse tipo de ousadia não começou ali. Em 1998, o primeiro iMac — que já saía completamente de qualquer padrão por ser transparente, colorido e arredondado — chegou sem drive de disquete, o que chocou usuários acostumados com o padrão da época. Eu vivi esse rebuliço e posso te garantir que causou raiva em muita gente.
E para “piorar”, o computador vinha com um novo conector totalmente desconhecido: um tal de USB (será que você já ouviu falar dele?). 🤔
Essas apostas sempre foram parte da identidade da Apple. E elas ajudaram a moldar toda a indústria.
Por isso, ver a empresa retroceder tão rápido diante de críticas nas redes sociais, como no caso do Liquid Glass, levanta a pergunta: será que a Apple está ficando cautelosa demais? Será que essa falta de coragem não está freando qualquer possível inovação?
Claro, adaptar-se ao feedback do público é importante. Mas existe uma diferença entre ouvir os usuários e deixar que cada crítica determine os rumos do design.
A Apple que conhecemos costumava bancar suas ideias com confiança. Mas claro que isso tem a ver com liderança, que quando funciona, faz com que o que é apresentado ao público já esteja pronto e funcionando bem.
Ficar apresentando novidades antes delas estarem finalizadas e depois usar o público para ir testando a construção das funções, é a receita para acontecer o que está acontecendo: uma Apple perdida, sem rumo em seu design.
Mas isso não é exatamente uma novidade. É algo que eu já venho falando há alguns anos…