Nos bastidores do mercado financeiro, cresce a pressão para que a Apple inicie uma transição de liderança. Analistas e investidores questionam se Tim Cook ainda é a melhor opção para comandar a empresa, especialmente após uma sequência de sinais negativos envolvendo inteligência artificial, inovação de produtos e desempenho na bolsa.
A Apple vem sendo criticada por estar ficando para trás na corrida da inteligência artificial, enquanto concorrentes como Microsoft, Google e até a OpenAI lideram o avanço com tecnologias mais ousadas e visíveis para o público.
Para a consultoria LightShed Partners, trocar a liderança da Apple seria o caminho natural.
A Apple precisaria de um CEO mais próximo dos produtos e da engenharia, capaz de resgatar a energia criativa que marcou a era de Steve Jobs.
Segundo a consultoria, Tim Cook é mais gestor do que inovador, e isso pode até ter funcionado na última década, mas talvez não seja o bastante para a próxima.
A queda de cerca de 16% nas ações da Apple em 2025 só aumenta a pressão, num momento em que investidores exigem não apenas estabilidade, mas ousadia.
Tim Cook não pretende sair — e o conselho também não quer
Apesar de todo esse barulho externo, Tim Cook não está planejando sua saída.
Isso diverge das expectativas iniciais que imaginavam que Cook ficaria até 2026 no comando. Porém, os planos mudaram.
De acordo com Mark Gurman, da Bloomberg, o CEO deve continuar no cargo por pelo menos mais alguns anos, e não há sinais de preparação imediata para uma sucessão.
Jeff Williams, que era apontado como sucessor natural, se aposentará até o fim do ano. E o novo COO, Sabih Khan, embora competente, não é visto como o próximo CEO.
O próprio Cook continua acumulando responsabilidades — inclusive com chances de assumir a presidência do conselho futuramente, como já fizeram líderes como Bob Iger (Disney) e Satya Nadella (Microsoft).
Internamente, o nome mais forte para uma sucessão de longo prazo é o de John Ternus, atual chefe de engenharia de hardware. Mas ele ainda não tem experiência financeira ou operacional suficiente para assumir de imediato.
Apple se reorganiza sem trocar comando
A empresa reconhece a necessidade de mudanças, mas elas vêm debaixo para cima, e não de cima para baixo.
Nos últimos meses, a Apple iniciou uma grande reorganização:
- Departamentos de design e saúde foram realocados;
- Equipes internas foram redistribuídas após a saída de Williams;
- Executivos seniores próximos da aposentadoria estão sendo substituídos por nomes mais jovens.
Tudo isso aponta para uma tentativa de adaptação sem que isso envolva tirar Tim Cook do comando.
Dificuldade para se reinventar
Há, sim, uma pressão crescente para que a Apple entre em uma nova fase.
Mas, por enquanto, essa pressão não é suficiente para provocar uma mudança no topo. Tim Cook segue firme como CEO, com o apoio irrestrito do conselho e sem sucessor imediato.
Mas é inegável que, apesar de ter feito a Apple ganhar muito dinheiro na última década, a percepção de que a cultura de design da Apple se enfraqueceu sob Cook.
A saída recente de líderes históricos como Jeff Williams, Dan Riccio, Luca Maestri e até Ruoming Pang acendem um forte alerta sobre as condições que a empresa tem para vencer atualmente em um mercado tão acirrado.
Com Tim Cook no comando e sem sinais de uma renovação profunda na essência da empresa, cresce o temor de que a Apple acabe seguindo o mesmo caminho de gigantes que ficaram para trás, como Nokia e BlackBerry.
Ou, num cenário ainda mais preocupante, que volte a ser aquela Apple de 1995: sem rumo, em crise de identidade e à beira do colapso, só salva na época pelo retorno de um Steve Jobs que, hoje, já não está mais por perto.
O Jobs já havia dito na sua biografia que o Cook é um cara bom mas não de produto. Atualmente a Apple precisa disso: um cara que pense em produtos, não só em gestão. Não trocaria ele, mas o Tim precisa achar alguém interno mesmo e dar poderes a ele.