Quando Donald Trump voltou à presidência dos Estados Unidos, muitos de nossos leitores nos perguntaram: “Por que Tim Cook está se esforçando para se aproximar do novo presidente?”
De fato, o CEO da Apple doou US$ 1 milhão para o comitê de posse de Trump e estava lá, na primeira fila, ao lado de outros nomes de peso do Vale do Silício como Mark Zuckerberg (Meta) e Sundar Pichai (Google).
A ideia era clara: manter um canal direto com o novo governo e, quem sabe, suavizar o ambiente regulatório. Se Cook não fizesse isso, poderia ficar em desvantagem perante as outras Big Techs.
Mas os meses passaram e o que se viu foi exatamente o contrário do que a Apple esperava.
A ofensiva diplomática da Apple
Tim Cook foi um dos vários executivos de tecnologia que contribuíram para o comitê inaugural de Trump em 2025, além de participar pessoalmente da cerimônia de posse.

A expectativa era de que esse gesto de boa vontade ajudasse a reduzir a pressão regulatória sobre a Apple, especialmente em um momento em que o governo Trump sinalizava uma agenda mais pró-indústria para áreas como inteligência artificial, semicondutores e produção nacional.
Mas a aproximação não resultou no esperado.
A realidade foi outra
Segundo o New York Post, apesar da contribuição milionária e da presença pública de Tim Cook nos eventos de Trump, a Apple não recebeu tratamento especial do novo governo.
Pelo contrário: enfrenta agora uma série de investigações e pressões regulatórias tanto nos EUA quanto no exterior.
O Departamento de Justiça norte-americano mantém uma ação antitruste contra a Apple, alegando que a empresa abusa de sua posição dominante no mercado de smartphones e restringe a concorrência de forma anticoncorrencial.
Além disso, o Reino Unido anunciou que passará a regular Apple e Google como empresas com “vantagem estratégica de mercado”, sujeitas a multas bilionárias — uma decisão que ocorre justamente na véspera de uma visita oficial de Trump ao país.
Pressão do núcleo conservador
Outro fator que pesou contra a Apple foi a crescente pressão do núcleo conservador ligado ao trumpismo.
Figuras como Steve Bannon e J.D. Vance passaram a defender abertamente que as big techs sejam “quebradas” ou tenham seus modelos de negócios radicalmente transformados, como forma de combater o que consideram censura a vozes conservadoras nas plataformas digitais.
Mesmo com os esforços para se mostrar neutra politicamente, a Apple continua sendo percebida como parte de uma elite progressista do Vale do Silício — e isso por si só já basta para mantê-la na mira.
O saldo de uma aposta perdida
Tim Cook tentou manter um canal direto com Trump seguindo a cartilha da diplomacia corporativa. Mas, na prática, a estratégia não trouxe nenhum benefício concreto.
Trump quer demonstrar força contra as Big Techs, não apenas para agradar sua base, mas também para reafirmar uma agenda nacionalista de domínio tecnológico.
Em vez de colher benefícios, a Apple continua enfrentando investigações sérias, com risco de multas bilionárias e mudanças obrigatórias em seu modelo de negócios. Sem falar nas constantes pressões do próprio Trump na narrativa de fazer a Apple levar sua linha de produção de iPhones para solo americano.
Trump não tem amigos
É ilusório achar que Trump faz amizades com empresas ou países. Seus atos nos primeiros meses de seu segundo mandato mostram muito bem que o que importa unicamente são seus interesses pessoais.
É por isso que qualquer explicação que se tente dar a seus atos, até mesmo quando ataca o 🇧🇷Brasil, por exemplo, é apenas uma tentativa vã de encontrar uma racionalidade em algo que nem sempre faz real sentido.
Dizer que a taxação de 50% tem a ver com “o distanciamento do governo brasileiro do governo americano” é um argumento fraco, principalmente quando vemos que Trump aplica taxas altas e sem sentido também em grandes parceiros históricos, como Canadá e União Europeia.
Então, bajulá-lo, patrociná-lo ou lamber os seus sapatos não faz, na prática, nenhuma diferença. O seu modo de governar é completamente diferente de tudo o que já se viu no mundo livre até agora.
Então, sim, foi um investimento de Tim Cook que não serviu para muita coisa.
Mas o CEO da Apple não foi o único. Elon Musk que o diga.
E agora, o que fará a Apple?
Perguntinha complicada… e por enquanto sem resposta lógica.
No ponto que está, talvez o melhor caminho seja o de esperar para ver o que se pode fazer daqui para frente.
Obviamente, iniciar qualquer embate contra Trump neste momento seria suicídio empresarial, então o melhor mesmo pode ser deixar o barco andar na direção da corrente, e equilibrar os pratos conforme os problemas vão surgindo. Um dia após o outro.
Como tudo na vida, é uma fase. E a grande missão de Cook agora é manter a sua empresa viva até que essa fase passe.
Correto. Ao que parece Trump busca o lucro pessoal. Não duvido que ele derrube as ações da Apple para comprar uma fatia da empresa e na sequência faça um aceno que façam as ações explodirem. Veremos.
Nenhum governo está completamente confortável com as BigTechs.
Elas são a bola da vez e precisam, no olhar deles, perder um pouco de força pois passaram dos limites.
Neste cenário a Apple acha que doar $1mil e fazer pose pra foto vai mudar alguma coisa?
Como diz o post: É viver um dia de cada vez e ver como será.
O que já percebemos: Serão tempos difíceis.
Em tempo (ou estou atrasado?): O novo layout do blog ficou muito bom!
Amigo, tem uma coisa errada na sua análise ao dizer que a taxação de 50% não tem a ver com o distanciamento do governo brasileiro do governo americano e ainda afirmar que esse argumento é falho. Só porque, quando olhamos para o histórico, vemos que o Trump também aplicou taxas altas e aparentemente sem sentido até em grandes parceiros históricos? Pois bem, o contrário já aconteceu entre a Argentina e os Estados Unidos, que, segundo o Globo e a CNN, estão costurando um acordo de tarifa zero entre os dois países. Nesta semana, inclusive, os EUA e a União Europeia fecharam um acordo sobre tarifas, com redução e até tarifa zero para produtos considerados estratégicos, além de um pacote de 600 bilhões em investimentos nos EUA.
Nada do que Trump faz é sem sentido ou burrice — se fosse burro, não seria rico como ele é até hoje. Mas uma coisa eu concordo: a aproximação com as ‘big techs’ não adiantou nada, e era óbvio que não adiantaria. Elas estavam contra ele o tempo todo. Você esqueceu da carta aberta dos líderes dessas empresas, incluindo a Apple, chamando Trump de “desastre para a inovação”? E da moderação de conteúdo que resultou no banimento dele no Facebook e no Twitter? Sem falar que a Apple baniu o Parler e outros aplicativos alinhados à extrema-direita. Essa tentativa de aproximação seria como deixar seu inimigo entrar na sua casa e comer na sua mesa. Não precisa ser gênio pra entender que isso não funciona.
Além disso, as regulamentações começaram ainda no primeiro mandato de Trump, quando o DOJ e a FTC abriram processos antitruste contra Google e Facebook/Meta. O Biden apenas deu continuidade a esses processos. As ‘big techs’ só tentaram se reaproximar porque queriam evitar novas regulamentações, não porque estavam dispostas a apoiá-lo de fato.
Então, o Brasil vai ser o único país a se prejudicar se continuar fazendo negócios com a Rússia e o Irã, além dessa caça às bruxas por um golpe que não aconteceu. Como falei, outros países estão cedendo ao tarifaço do Trump.