Uma mudança importante na cúpula da Apple está em curso: Jeff Williams, atual COO (Chief Operating Officer) da empresa, vai passar o cargo para Sabih Khan ainda neste mês de julho.
A transição faz parte de um processo de sucessão que já estava sendo planejado há algum tempo. Williams continuará na Apple até o fim do ano, atuando em um papel reduzido.
Mas o ponto mais sensível dessa transição está no futuro da área de design: a equipe de design da Apple passará a se reportar diretamente ao CEO Tim Cook após a aposentadoria de Williams.
É uma mudança que pode parecer apenas estrutural, mas que tem implicações relevantes sobre o papel que o design terá na Apple daqui pra frente.
Williams: um elo entre engenharia, produto e estética
Jeff Williams está na Apple há 27 anos e foi uma das figuras mais influentes nos bastidores da empresa.
Além de liderar a cadeia de fornecimento global, ele esteve diretamente envolvido no lançamento de produtos fundamentais como o iPod, o iPhone e o Apple Watch.
Foi ele quem arquitetou a estratégia de saúde da Apple, com foco em bem-estar, monitoramento e integração com o Apple Watch.

Nos últimos anos, Williams também passou a liderar a equipe de design da Apple, após a saída de Jony Ive e, posteriormente, de Evans Hankey. Ou seja, embora discreto, ele era o executivo que equilibrava usabilidade, visual e viabilidade técnica dentro da Apple.
A sua saída representa não apenas o fim de uma era, mas a perda de uma figura que atuava como ponte entre diferentes mundos dentro da empresa: criatividade, engenharia e operação.
Sabih Khan assume o posto
O novo COO da Apple será Sabih Khan, que está na empresa há três décadas e já liderava as operações globais desde 2019.
Ele é visto como um dos principais responsáveis pela sofisticação da cadeia de produção da Apple, atuando diretamente em:
- Planejamento, manufatura, logística e qualidade dos produtos;
- Programas de responsabilidade com fornecedores, incluindo educação de trabalhadores e direitos sociais;
- Iniciativas ambientais, que resultaram numa redução de 60% da pegada de carbono da Apple.
Em resumo: Khan é extremamente competente e tem um perfil técnico-operacional muito sólido. Mas ele não tem histórico conhecido de envolvimento direto com as áreas de design ou produto.
Por isso, a partir da aposentadoria de Williams, a equipe de design deixará de estar sob um executivo de operações e passará a responder diretamente a Tim Cook.
Design sob o comando do tio Cook
A decisão de centralizar o design sob Tim Cook levanta uma dúvida importante:
o design continuará tendo autonomia para ousar ou será diluído nas prioridades de negócios?
Tim Cook é admirado por sua habilidade em transformar a Apple na empresa mais eficiente e rentável do mundo. Mas ele não é um líder de produto no estilo Steve Jobs ou Jony Ive.
Ao assumir o comando direto da área de design, ele poderá ter uma visão mais pragmática, mais voltada à escalabilidade, à produção e à estratégia comercial.
Isso pode ser bom para os negócios — mas pode comprometer o espaço para experimentação estética ou rupturas conceituais, que foram marcas registradas da Apple no passado.
E o novo visual do iOS? Liquid Glass está salvo?
No campo do software, a transição tem menos impacto direto.
A nova linguagem visual do iOS, chamada Liquid Glass, continua sendo responsabilidade dos times de Alan Dye e Craig Federighi. A Apple já está na fase beta do iOS 26, e o visual translúcido e dinâmico que vimos na WWDC segue seu curso (ou não).
No entanto, é legítimo questionar o que vem depois: será que podemos esperar grandes inovações de design com essa nova Apple?
O risco de um futuro mais previsível
É inegável que a Apple dos últimos anos tem sido mais contida em suas decisões de design.
O Vision Pro, embora impressionante, ainda carrega o peso de ser um produto “de transição”, com foco em testes e mercado limitado. O iPhone tem evoluído em ciclos mais previsíveis. O Apple Watch mantém seu mesmo formato há quase uma década.
Claro, isso não significa que a Apple esteja perdendo sua capacidade de inovar — mas o foco parece cada vez mais em entregar algo que funcione perfeitamente, e não necessariamente algo que desafie o status quo.
Com o design agora diretamente sob a supervisão de Tim Cook, pode ser que vejamos ainda mais foco em usabilidade, produção em escala e margem de lucro, em vez de riscos criativos como os que marcaram a era Jobs–Ive.
E agora?
Ainda é cedo para conclusões definitivas.
Tim Cook é um gestor experiente, e a Apple segue como uma das empresas mais admiradas do mundo justamente por sua atenção aos detalhes.
Mas, com essa mudança estrutural, abre-se uma nova fase onde o pragmatismo pode se sobrepor à ousadia.
Resta saber se isso é um movimento necessário para manter a Apple competitiva…
Ou se estamos assistindo ao fim de uma era onde o design tinha status de arte dentro de Cupertino.